Era uma tarde de outubro. Estava em um ônibus barulhento. De repente meu celular tocou: "Boa tarde, por favor, é a Janine?”. Respondi que sim e minhas esperanças por encontrar um emprego se afloraram. Porém, por conta do barulho não consegui compreender para que era a vaga. Apenas entendi que era para eu comparecer ao Largo de Santa Cecília, 47.
Acreditava fielmente que era uma vaga para Operadora de Telemarketing. No dia combinado, coloquei uma calça social preta e uma blusinha rosa com faixinhas azuis na gola. Na bolsa um livro, claro, e o dinheiro do lanche. Ao chegar ao local o susto! Meninas vestidas de terninho e homens de terno. Achei estranho. Vi o logo do Bradesco, mas jurava que o emprego era terceirizado. Subi até o segundo andar. Ao entrar no auditório, que ainda estava decorado com o tema da Copa, vi na lousa branca o cargo e o salário e por fim descobrir que a empresa que me havia selecionado não era de Telemarketing (risos).
Uma moça chamada Andréia fez uma pequena explanação sobre o cargo e aplicou uma prova com questões de Português e Matemática. Português eu me garanto, agora matemática... Fiz a prova e foi pedido para que esperássemos do lado de fora, na Copa. Fiquei próxima a um grupo e uma das meninas disse: "É a terceira vez que tento. Preciso passar!". Um outro se gabava da Faculdade que fazia e eu apenas exclamei: "É a primeira que tento e seja o que Deus quiser".
Nos chamaram para o auditório. Coloquei minha bolsa no ombro, pois tinha a certeza de que não havia passado. "Aos que eu disser o nome eu agradeço a participação", disse a examinadora. Nome por nome... Eu fiquei.
A segunda etapa foi em Osasco. Eu com toda minha ignorância achava que ficava muito longe da minha casa. Àquela época, a linha-9 Esmeralda não vinha até o Grajaú. Peguei o trem na Estação Santo Amaro e menos de 40 minutos já estava lá. Burrica, eu fui andando da estação até a famosa Cidade de Deus e mesmo assim cheguei mais de uma hora antes. Enquanto não dava a hora da dinâmica, observei o vai-e-vem dos funcionários, pois era horário de almoço. Fui à banca de jornal e comprei uma revista e sentei-me no banco do ponto de ônibus. Não conseguia ler. Estava nervosa e com medo de mais uma vez fracassar.
Ao entrar na Cidade de Deus, meu queixo caiu. Percebi que o Bradesco era realmente muito grande. Na dinâmica, em meio ao barulho dos helicópteros, tive de vender uma dentadura usada. E assim como foi na primeira etapa, a selecionadora informou o nome de quem não havia passado. Fiquei!
Fui para a etapa da entrevista técnica. Tive de ler números e vender um plano de saúde... Eu enfim passei!
No dia 06 de novembro de 2006 levei minha carteira para assinar e pegar meu crachá. Desta vez sabia como chegar em Osasco. Eis que minha história com o Banco Bradesco definitivamente começou.
No dia 07 de novembro eu tremia tanto... E pela primeira vez dobrei meus joelhos na Igreja de Santa Cecília. Agradeci a Deus pelo emprego que ele tinha me dado. Claro, chorei.
Foram 62 contratados, que posteriormente foram divididos em três turmas: duas turmas com 20 funcionários e uma com 22. Minha turma ficou com o produto Cartão de Crédito. Foram 40 dias de treinamento. Lembro de muita coisa destes dias felizes, dias de esperança. Minha instrutora foi a Letícia, mas o Artur, ainda jovem, esteve por algumas vezes a ajudá-la.
No ano em que o São Paulo Futebol Clube saiu da fila e conquistou seu quarto título brasileiro, eu conheci o Bradesco.
Após o treinamento... Fui pela primeira vez ouvir o atendimento de Cartão. Minha carona foi a Ligia, uma garota muito inteligente e prestativa. Ao atender pela primeira vez... Que nervoso. Acho que após a quinta ligação comecei a chorar... Que desespero! Eu não ia conseguir!
Os dias foram passando, passando e as amizades acontecendo. Após quase sete meses atendendo Cartão eu fui para Carteira D. Coisas de Deus.
Eu não ligava de trabalhar final de semana. Eu trabalhava das 14h30 às 20h45 e sem a NR-17 tinha apenas 15 minutos de lanche, mas era feliz. Tinha esperança de um dia ir para o Departamento de Comunicação do Banco...
Que coisa... Sabe, eu tenho tanta coisa para falar, mas não sei como continuar. Cada dia que vivi no Telebanco merece um livro ou ao menos uma página escrita. Quantas alegrias, quantas emoções, quantas lágrimas... Sou dramática e não posso negar. Estou tentando medir as palavras. Não quero falar de mais, porém não quero falar de menos.
Hoje faz uma semana que deixei o Telebanco e comecei na agência... O novo me espera, mas jamais me esquecerei: Dos Rankings Comerciais, da Viagem, do stress e claro, das pessoas...
Não poderia colocar o nome de todas as pessoas que conheci, mas algumas merecem destaque: a primeira da lista com certeza é Priscila Flávia. Sempre digo que se meu futuro não for o Bradesco, que só o fato de ter conhecido esta mulher de Deus já valeu a pena. Tem ainda o Cristiano, a Kamila, a Márcia, as Keithes...Ah! E o Thiagão? Entrei com ele no banco e agora no finalzinho de atendimento trabalhei com a noiva dele, a Aline. O que falar da Rosana? Da Margô?
Na sexta passada, fui perceber o quanto eu sou querida. Que na verdade, não sou nervosa, sou justa. Que em cinco anos tive desavença com apenas uma pessoa, pessoa está que tinha desavença com todo mundo. Então nem conta.
Nesta caminhada pensei em várias vezes desistir... Principamente ano passado, quando fiquei em banco de dados de um processo e não fui chamada para uma vaga que queria tanto. Ou mesmo quando ouvi que precisava de ajuda psicológica, pois estava ansiosa... Foram cinco anos! Estava difícil. Entrava na Paróquia de Santa Cecília e às vezes não falava nada com Jesus, apenas chorava. Aguentei o quanto meu corpo deixou. Mas sei que o milagre às vezes não acontece como a gente quer...Por mais que eu tenha feito planos, Jesus sabia de tudo e por ele me guiou e continua me guiar. Jesus sabe o quanto fiquei chateada com algumas coisas... Que às vezes me senti injustiçada.
Fui me despedir do Senhor que vende jornalzinho na Paróquia de Santa Cecília e ele me disse: "Vi que quase todos os dias você vinha aqui pedir perseverança para Jesus, e Ele te deu". Não sei o que vai ser de mim. A luta apenas começou! Mais uma! Onde eu vou chegar? Não sei! Deixo isso para Deus. Não consigo me livrar dos desejos do meu coração e da minha mente. Mas não quero dar murro em ponta de faca. Continuarei do meu jeito. Certinha, com pavor de chegar atrasada e de fazer alguma coisa errada...
Que Deus abençoe cada pessoa que passou pela minha vida... E principalmente os clientes que me tiraram do sério. Nas adversidades e que crescemos.
Quando a Patrícia Poeta deixou o Fantástico e foi para o Jornal Nacional. Chamou-me a atenção uma frase dita por ela: "Entrei menina na Globo e hoje saio do Fantástico uma mulher". Entrei no Bradesco uma menina medrosa, cansada de levar não do mercado de trabalho e hoje saio mulher, uma mulher que conquistou uma pós-graduação, que faz Inglês e que nunca deixará de estudar. Só paro se Deus tirar minhas habilidades de pensar... Se o trabalho produz riqueza, só o conhecimento produz sabedoria.
Obrigada,Telebanco por fazer parte da minha vida. Jamais esquecerei tudo que vivi neste lugar.
Junípera, minha companheira de labuta